sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Centenário de Leônidas

 - Atualizado em 


Centenário de Leônidas: 'O primeiro 



grande rei do futebol', diz jornalista


Craque da década de 30 foi ídolo no Fla e no São Paulo: 'Aparência de Romário e comportamento do Edmundo', definiu biógrafo André Ribeiro


Nesta sexta-feira, Lêonidas da Silva completaria 100 anos, um craque que é a primeira grande estrela do futebol brasileiro. Mas reviver a sua história é um exercício de imaginação, já que há poucos vídeos e gravações de rádio sobre sua técnica apurada em campo. O registro fica por conta de quem o viu em ação ou estudou a vida do "inventor da bicicleta". O jornalista e biógrafo André Ribeiro é um dos que foram à fundo na história do Diamante Negro, ídolo de clubes como Flamengo e São Paulo.
- A comparação que a gente pode fazer trazendo para os tempos de hoje é que o Leônidas foi o que Neymar é hoje, foi o Pelé antes de Pelé ser Pelé. Ou seja, ele foi na verdade o primeiro grande rei do futebol na fase profissional do esporte.
A fama de Leônidas da Silva já corria pelos gramados do Rio de Janeiro no final dos anos 20. Ele começou no Confiança, hoje na área do Acadêmicos do Salgueiro, escola de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Depois, passou por Sírio Libanês, São Cristóvão, Bonsucesso, onde chegou à seleção brasileira. Ali começava a surgir o mito Leônidas da Silva.
- Ele tinha a cara do Romário. A aparência do Romário com o comportamento do Edmundo - definiu André Ribeiro.
Homenagem para Leônidas da Silva São Paulo (Foto: David Abramvezt)Craque brasileiro Leônidas da Silva foi intitulado o inventor da bicicleta (Foto: David Abramvezt)
Genial e genioso, Leônidas ainda passaria por Vasco, Penãrol, no Uruguai, Botafogo e depois Flamengo, neste último já às vésperas da Copa do Mundo de 1938, na qual o atacante brasileiro foi a grande estrela.
- A fama dele só era comparada ao presidente da República Getúlio Vargas, que era o "pai dos pobres", um presidente superpopular, e Orlando Silva, o cantor das multidões - afirma André Ribeiro.
Na Copa do Mundo de 1938, na França, Leônidas levou a seleção brasileira ao terceiro lugar, foi o artilheiro da competição e eleito o melhor jogador. Na volta ao Brasil, idolatrado, sentiu o impacto da fama. Como jogador do Flamengo, ele viveu com indisciplinas, lesões e até uma prisão de oito meses. A saída do clube carioca só terminou nos tribunais.
Centenário Flamengo x Botafogo - Leonidas da Silva (Foto: Reprodução/Site Oficial do Flamengo)Leônidas da Silva foi ídolo no Flamengo
(Foto: Reprodução/Site Oficial do Flamengo)
- Ele entrou em um golpe que existia no Rio de Janeiro. Muito tempo antes, em 1934, quando ele precisava do certificado de dispensa do serviço militar, ele recorreu aos serviços de um gaiato, e esse gaiato era nada menos do que o sobrinho do presidente Getúlio Vargas. Quando o Flamengo quis processá-lo, achando que ele estava se recusando a jogar, que queria romper o contrato, que ele estava forçando a saída dele, eles usaram o processo na Justiça Militar, foram atrás e conseguiram. E ele foi preso. Na defesa dele, uma coisa inusitada é que o Leônidas foi o primeiro jogador de futebol do Brasil a utilizar na sua defesa a lei Áurea, porque ele dizia que estava sofrendo na verdade de racismo - relata o jornalista André Ribeiro.
Sem clima para Leônidas da Silva no Rio de Janeiro, ele foi vendido para o São Paulo pelo equivalente a R$ 156 mil, uma fortuna para a época. Uma nova fase se inicia para o craque, e novamente de muito sucesso.
- A chegada dele transformou a história do São Paulo, revolucionou o futebol paulista, e foi a década de ouro do São Paulo, o início da transformação de um time, entre aspas, pequeno, para um clube de massa. Foi com o Leônidas. É ele quem dá esse status de riqueza e time grande - conta André Ribeiro.
A carreira do Diamante Negro terminou em 1949, porque ele não se conformou em ficar fora da Copa do Mundo no Brasil no ano que seguinte. Mesmo assim, aos 37 anos, ainda terminou como artilheiro do Campeonato Paulista.
Leônidas da Silva (Foto: Reprodução SporTV)Leônidas da Silva morreu em 2004, numa clínica no
interior de São Paulo (Foto: Reprodução SporTV)
- Se ele fosse para o campeonato de 50 no Maracanã, o Brasil não perdia - diz Albertina Santos, viúva do craque brasileiro, com quem ficou por quase 40 anos. A união foi bem até quando o Mal de Alzheimer permitiu.
- Ele começa a se recolher cada vez mais. Há um fato marcante quando ele é procurado na Copa da Alemanha, em 74, que o fez voltar ao local onde o Brasil jogou a Copa de 38. Ele não se lembrava de absolutamente nada. Ou seja, ali já estava instalada a doença - conta André Ribeiro.
Os últimos anos foram numa clínica do interior de São Paulo. Bem tratado, mas longe da fana, Leônidas da Silva morreu ali em 2004, o inventor da bicicleta no futebol, o craque consagrado e temperamental.
- Ele tinha que ser eternizado como um grande herói brasileiro, e é isso que ele é. Acho que agora, com 100 anos de vida que ele estaria fazendo, é o momento ideal para a gente talvez bater um pouquinho de palma e reverenciar tudo o que ele deixou de bom na história do futebol brasileiro. Foi ele quem abriu a porta para Pelé, foi ele quem abriu as portas do talento do futebol brasileiro para o mundo na Copa de 38. Que também as pessoas lembrem que o homem virou chocolate, e não o contrário - concluiu o biógrafo André Ribeiro.
Albertina esposa Leônidas São Paulo Homenagem (Foto: Luiz Pires / Vipcomm)Viúva de Leônidas, Albertina recebe homenagem em jogo do São Paulo (Luiz Pires/Vipcomm)

 

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